terça-feira, 13 de setembro de 2016

Associação de Consultorias Mira Governança e Autorregulação

Novo presidente da Acinprev destaca quais as principais pautas da associação e se aproxima de reguladores para discutir sistema de RPPS


Um sistema de informações que possibilite o acesso a carteira dos RPPS e acompanhamento dos investimentos. Esta é uma das propostas defendidas por Celso Sterenberg, novo presidente da Associação das Consultorias de Investimento e de Previdência (Acinprev). Criada em 2015 a associação pretende apresentar uma série de propostas para contribuir com a melhoria das práticas de capacitação e governança de regimes próprios e das consultorias que atuam no segmento. À frente da associação desde junho, Sterenberg defende que a associação, ainda que não tenha autoridade formal, possa orientar a atuação das consultorias através autorregulação, seguindo modelo similar ao da Anbima.

Em entrevista ao caderno iiRPPS, Sterenberg destaca que a associação, que hoje conta com a participação de dez consultorias, tem reforçado a aproximação com o governo e órgãos reguladores e buscando soluções para governança de regimes próprios. “Órgãos reguladores precisam iniciar um processo de interação com a iniciativa privada, incluindo as consultorias, e nós da Acinprev representamos isso”, destaca o executivo.

Sterenberg é formado em administração de empresas e é sócio da Plena Consultoria de Investimentos. Leia a entrevista na íntegra:

iiRPPS – O objetivo da formação da Acinprev é dar maior representatividade para as consultorias. Como você pretende encabeçar ações com essa finalidade?
Celso Sterenberg – Existem temas da Acinprev que são questões coletivas e unânimes. Uma delas é a contribuição de governança junto ao mercado. Temos interagido com órgãos governamentais para conseguir instaurar uma auditoria permanente e tem tempo real voltada para o risco e transparência dos regimes próprios. A grande importância da governança é antecipar a crise e para se conseguir esse tipo de governança em tempo real é necessário que os órgãos reguladores iniciem um processo de interação com a iniciativa provada, incluindo as consultorias, e nós da Acinprev representamos isso.

iiRPPS – Como a iniciativa privada pode ajudar o governo a manter a transparência dos regimes próprios?
CS – A verdadeira transparência é a disponibilização de sistemas que possibilitam o acesso a carteira dos RPPS e acompanhamento dos investimentos. Isso é auditoria em tempo real, o que significa que cada auditor dos tribunais de contas, o Ministério, as consultorias ou os cotistas poderão receber em tempo real a notificação de uma movimentação que está acontecendo na carteira de um instituto. Fizemos uma simulação junto a um tribunal de contas analisando como podemos evitar que um problema aconteça. Mas esses instrumentos nascem a partir da iniciativa privada. Hoje já existe uma plataforma que oferece essa consulta em tempo real, sendo usada por aproximadamente 400 institutos de previdência.

iiRPPS – Os regimes próprios têm feito acordos com os tribunais de contas para melhorar a fiscalização do sistema. A Acinprev também pretende fortalecer atuação nesse sentido?
CS – Estamos fazendo, junto ao Tribunal de Contas da União e aos Tribunais de Contas dos Estados, um trabalho para mostrar essa plataforma. Também estamos trabalhando para assinar o termo de cooperação técnica com os tribunais de conta e construir um modelo de auditoria. O formato passa por uma implantação de um sistema junto aos regimes próprios de maneira que exista uma interligação entre os RPPS e os órgãos reguladores, reduzindo a burocracia e tendo a auditoria em tempo real.

iiRPPS – O que mais está em pauta no momento para a associação?
CS – Além dessa interlocução com órgãos governamentais, precisamos rapidamente dar maior subsídio aos regimes próprios para que eles possam ser mais sustentáveis. Antes, existia no mercado uma fragilidade na comunicação dos órgãos reguladores e fiscalizadores com o segmento. A partir do momento em que esse nível de comunicação acontece, o respeito às consultorias é outro. Queremos maior representatividade em eventos do segmento, que hoje reúne apenas representantes do governo. A Acinprev está buscando fazer com que esses eventos tenham contrapartida dos discursos. Além disso, a associação não possui autoridade formal para supervisionar as consultorias, mas tem hoje o objetivo de introduzir um comportamento adequado na atuação diária das mesmas.

iiRPPS – Se a associação não tem autoridade formal, como será realizada a supervisão do trabalho das consultorias?
CS – Temos que oferecer um bom exemplo ao mercado e excessos precisam ser combatidos. Queremos construir nossa autorregulação e para isso já procuramos a Anbima que é um exemplo nacional de associação consolidada. Ainda vamos criar um grupo de trabalho no sentido de absorver esse conhecimento histórico da Anbima para construir nossa autorregulação.

iiRPPS – A Trinus foi uma consultoria que deixou a associação recentemente sob alegação de distância geográfica. Como tem sido a atuação com as outras consultorias? Vocês têm buscado algum tipo de solução para essa questão geográfica?
CS – A Trinus teve esse movimento por conta do incômodo dos donos não poderem estar presentes como gostariam. A ideia é não deixar que a distância geográfica atrapalhe. A FAHM, por exemplo, que é uma consultoria do Rio Grande do Sul participou da última reunião por meio de videoconferência. Estamos viabilizando isso. Fazemos seis grandes reuniões por ano, e a ideia PE fazer a última em Brasília, sempre com a tentativa de entregar um documento final ao Ministério.

iiRPPS – Você defende que as consultorias devem ter permissão legal para indicar fundos de investimentos?
CS – Estaremos tratando desse assunto com a CVM, pois há uma instrução do órgão que permite que analistas indiquem fundos a seus clientes. Vamos sugerir nessa reunião que tenhamos o mesmo tratamento dos analistas nesse sentido. A instrução destaca que a indicação dos analistas é válida, desde que a postura evite qualquer tipo de conflito de interesses. Queremos entender da CVM por qual motivo as consultorias são obrigadas a apontar ao cliente quais fundos têm problema, e dizer que não é ara investir neles, e somos proibidos de indicar um fundo bom. Imagino que estamos com responsabilidade e estrutura o suficiente para termos os mesmos espaços que os analistas de valores mobiliários.

iiRPPS – Quando a Acinprev foi formada, alguns dirigentes de regimes próprios demonstraram apoio mas destacaram que era importante que a associação atuasse sem conflito de interesse. A indicação de fundos não seria caracterizada como um conflito de interesses?
CS – Não tem mais um viés de conflito de interesse se uma instituição financeira fizer essa indicação? Se há uma autorização da CVM para que os analistas de instituições como bancos possam indicar fundos, desde que sejam respeitadas determinadas obrigações e responsabilidades, isso deveria se estender para o mercado todo. Um agente autônomo de investimentos pode distribuir um fundo, um banco também, um analista de valores mobiliários, também pode, e gostaríamos de fazer nossa defesa de que as consultorias podem indicar o produto correto para a carteira dos clientes, além de elaborar a política correta de investimentos. Tudo isso será feito dentro da ética e com ausência de conflito.

iiRPPS – Como tem sido a aproximação da Acinprev com o governo e órgãos como a CVM?
CS – Teremos uma reunião com o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e a CVM para fazer a discussão sobre a regulamentação das consultorias de investimento. Também estamos interagindo com o Ministério da Fazenda e o secretário de previdência Marcelo Caetano para tratar da modernização da Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 3.922. Estamos satisfeitos com o fato de que hoje existe comunicação. Antes não existia. Isso denota um novo momento e novo respeito que o mercado regulador passa a ter.

iiRPPS – Quais as principais mudanças que deveriam ocorrer na Resolução CMN nº 3.922, na sua opinião?
CS – Fizemos um evento com 47 instituições financeiras para discutir essa resolução. Dessa reunião, surgiram cinco grupos de trabalho que estão fazendo mais reuniões com o objetivo de consolidar os principais pontos a serem propostos em relação a alterações na resolução. Um dos pontos é tratar da contribuição da previdência para obras de infraestrutura como um todo no Brasil. Os regimes próprios podem dar uma contribuição muito maior para a infraestrutura, e para tanto, estamos defendendo que tenha um espaço aproximado de 20% para que projetos ligados a parcerias públicas co-privadas possam receber aporte de regimes próprios.

iiRPPS – A perspectiva de redução das taxas de juros deve incentivar maior diversificação dos investimentos dos RPPS. Quais são os desafios dessa diversificação?
CS – O grande desafio é a sustentabilidade do regime próprio. Temos o déficit da união, dos estados e municípios. Precisamos de regulações que permitem que os regimes próprios possam reduzir esse déficit. Hoje há permissão para que o RPPS receba do ente terrenos para redução do déficit. Isso é importante. Precisamos discutir também a possibilidade do regime próprio receber o crédito da dívida ativa, que pode entrar como aporte para redução do déficit atuarial. São discussões que precisam entrar em pauta com o governo.

iiRPPS – Como avalia o Programa Pró-Gestão do Ministério?
CS – Temos um trabalho que faz uma análise crítica do Pró-Gestão. Um dos pontos que criticamos é que muitas vezes o regime próprio perde o certificado por conta de dívidas do ente. Não achamos justo que o instituto perca o Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP) por uma ação que não dependeu dele. São questões que estamos colocando para alteração no programa. Enquanto o programa não for implantado, queremos ter esse alinhamento e fazer uma revisão.

Fonte: Entrevista publicada na Revista Investidor Institucional RPPS - Ano 1, nº 7 - Agosto de 2016.